Matéria tão incompreendida por uns e tão transparentemente decifrável por outros, o coleccionismo é um mistério que se entranha, transpira, cresce e nos transforma.
Trata-se de algo que começa sempre na maior das inocências, por um gosto que se nutre, geralmente por influência de alguém de nós próximo e nos acompanha desde tenra formação.
Trata-se de algo que começa sempre na maior das inocências, por um gosto que se nutre, geralmente por influência de alguém de nós próximo e nos acompanha desde tenra formação.
A inocência inicial é algo auto-alimentado durante longo período em estado quase embrionário e estacionário e onde a evolução praticamente não dispara em sentido nenhum, nem sequer no sentido da sua evolução.
Então, passa-se a uma fase misteriosa, onde num súbito impulso e sem que tenhamos consciência, tudo se precipita e transforma num disparo de necessidades e loucuras de completo desvario e desgoverno. Adquire-se de tudo, não se medem tendências e parece passar-se ao descalabro da desorganização. Mistura-se o óptimo com o degradante, sem que a barreira das comparações funcione.
Surge então milagrosamente a necessidade de pousar, reflectir e a natural obrigatoriedade de decidir. Estado de nítida maturação, passamos quase a um período de especialista, mas que contas feitas, não passa afinal da primeira fase de refinamento. Investe-se então também em elementos periféricos capazes de verdadeiramente nos tornar especialistas. Literaturas, discografias, sétima arte, catálogos, enfim, tudo o necessário para o primeiro passo para um grande aperfeiçoamento pessoal, capaz de conjugar requinte e exigência quanto baste, para um autêntico afloramento que nos eleva ao limite das nossas exigências e carteiras.
Aqui chegados, a idade etária caminhou por certo algumas décadas. A velhice é um poço de sabedoria. Possuidores de conhecimentos transcendentais, de peças que são a menina dos nossos olhos, de conjuntos de fazer inveja, atinge-se então um estado de paz, onde aqui sim, sabemos exactamente o que queremos e já são poucas as coisa capazes de nos satisfazer, de preencher e encantar.
Mas valeu a pena, para onde quer que olhemos dentro do nosso pequeno mundo, vemos uma riqueza apenas capaz de por nós ser verdadeiramente avaliada, depois de seguido este penoso e longo caminho de uma vida, que se calhar custou muitos lanches e almoços, calças e camisas, dias de férias e compras escondidas ou simuladas, desentendimentos, enfim, uma infindável panóplia de contrariedades e desavenças que afinal, terão sido da melhor ou da pior forma, ultrapassadas.
E o coleccionismo é isto, um complicado percurso de vida que se percorre sob a mira de um faro que nos hipnotiza.
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Eheh
ResponderEliminarCarrinhos de slot imaculados? Nunca ouvi falar... Já ouvi falar em carrinhos de slot rodados, espatifados, partidos, Scalex, Fly, Slot it, Hornby, Gom...
Imaculados não... :D
Tens razão Mota é um bichinho que primeiro estranha-se e depois entranha-se... E agora até eu já penso em viaturas "para a prateleira" ou "para a fotografia". Só é pena é que por vezes, ora por motivos orçamentais, ora por motivos mais obscuros, não conseguimos chegar aquele modelo, aquele que tanto tempo namoramos mas nunca chega ao nosso espólio.
Mas já se deve saber como funciono... mesmo sendo "para a prateleira" as minhas viaturas veêm sempre pelo menos uma vez a pista na vida :) Pode é não ser a um ritmo digno das suas capacidades, mas rodam pelo menos uma vez.
Abraços
Viva Morgado.
ResponderEliminarPois é, hó espatifador, já começas a ser mordido pelo bichinho e dentro em breve estarás certamente a dar valentes puxões, nas tuas orelhas.
Quanto àquele modelo que gostariamos de vêr embelezar as nossas estantes, não dá para poensar nisso, pois se "esse" não chegou cá, outros há que chegaram à tua, mas não à minha estante...
....e muito recentemente escrevi um artigo sobre o "R8 da SCX" e não consta imagem nenhuma do que serviu de base para o artigo que redigiste acerca do mesmo carro. Como vês....
Um abraço Morgado
Boas.
ResponderEliminarRealmente, carrinhos de slot imaculados, não conheço...
Essencialmente por falta de espaço e limitações orçamentais, nunca encarei o slot na vertente de coleccionismo. Mas admiro quem tem esse gosto. E sei de algumas que são verdadeiramente impressionantes, dignas de museu!
Ultimamente tenho começado a colocar carros na prateleira: aqueles que já tiveram um boa carreira de competição. Mas esses, seguramente, nunca estão em estado irrepreensível, de exposição... entre preparação e acidentes de corrida, invariavelmente ficam com as suas formas e/ou decoração "alteradas". Mesmo assim, arranjei um lugarzinho no sotão para os guardar. Não sei se é colecção, mas custa-me livrar-me de objectos que me divertiram tanto.
Boas gatilhadas!
Viva Amigo Mota.
ResponderEliminarColecção não é forçosamente um album ou preteleira que tem de ter todos os elementos. Depende da vontade única do seu propietário, ter este ou não aquele.
Cromos em caderneta ou carros em mala não são própriamente uma colecção, mas sim um negócio para quem os edita.
Senão fosse assim o que chamaríamos à existência do Museu do Caramulo (no que se refere aos 1/1, claro)? É uma boa colecção e no entanto não estão todos lá.
Cumprimentos de
J.C.Nogueira
Exactamente amigo Nogueira.
ResponderEliminarUma colecção, para que o seja, tem que ter um fio condutor mas não é forçoso que contemple todos os elementos.
Mas quanto mais preenchida, mais completa estará.
Um abraço
Eu já tive tempos em que obrigava os meus carros a irem à pista, nem que fosse só uma vez.
ResponderEliminarAgora não. Tenho uma prateleira com modelos que até a massa da cremalheira é "de fábrica" :)
O que nos leva a coleccionar é de facto uma questão que dá que pensar. Provavelmente, o pessoal das áreas da Psicologia e afins teriam muito que dizer... mas por exemplo, porque é que eu colecciono modelos da Jagermeister e Lancia-Martini, se a bem dizer nunca devo ter visto um por perto!
Estranho... mas que é um prazer adicionar um modelo novo, com aquele brilhozinho nos olhos como uma criança no Natal, é uma verdade.
Excelente Hugo.
ResponderEliminarO coleccionismo é isso mesmo, um mistério.
Obrigado pela prestimosa colaboração.
Um abraço